segunda-feira, 22 de junho de 2015

novo outono

Com o tempo a gente aprende tanta coisa, depois de tanto conselho, tanto silêncio, a gente aprende muito mais que as estações do ano, que o preço do aluguel, que o cheiro das margaridas. A gente aprende a filtrar os desconselhos, a aceitar os inimigos, a abraçar as dores. Depois de muitos invernos a gente entende que florir só depende de nós, e que a chegada do verão requer, sim, paciência. Com o tempo a gente percebe que de nada valeu guardar tanta roupa, que de nada valeu guardar tanta mágoa. Que amanhã pode ser um dia melhor que hoje, mas também que hoje pode ser melhor que semana passada. A gente pode demorar, porque aprender leva tempo, mas o que importa é que a gente vai entender, muitas vezes lá pelo fim da estrada, que o valor das coisas depende mais da leveza do olhar que do peso das moedas. A gente vai entender que nem todo sorriso sorri, que nem toda lágrima chora, que o que a gente vê nem sempre é. Tanta coisa será dita, sim, mas só escute mesmo o que falar à sua alma. Muita gente vai julgar o que você é, o que deveria ter sido, seus sonhos, seus planos, seu emprego, seu desemprego e sua falta de sonhos e planos. Muita gente vai lhe dizer que o caminho poderia ser outro, que você deveria ser outro, ter sido outra coisa mais entendível por todos, como se parecer fizesse mais sentido que tentar encontrar aquela chave de ouro que em algum planeta estranho ousaram chamar felicidade. E às voltas com tantos dizeres, pesares pesados sobre o que devemos, pode ser que a gente perca um tempinho decifrando esse mundo-quebra-cabeça de oitocentas mil peças. Mas no fim  e isso requer mais tempo que espaço  vamos entender que tudo é mais simples que um dia pensamos, que viver faz todo o sentido, que amar dá sentido a tudo. Porque no fim  mas isso exige parar um segundo  vamos contemplar tudo se encaixando como se já tivesse sido escrito, as linhas tortas de Alguém que nos escreve em seu Livro.